O ANDARILHO
Pela rua vinha só o andarilho
ninguém o olhava, nem se compadecia
até mesmo a sombra dele próprio se ria:
alma-galinha a ciscar o parco milho.
Não é a boca, mas sim o buxo que o comia;
e vinha mais cerrado, que a pálpebra quando baixa o cílio.
Mais temente que a mãe, após nascer-lhe um filho
Feito água de latrina, pela ladeira-esgoto descia.
Casado com a morte, contrato vitalício
Que tem este homem, que fuma a alma como um vício?
Que tem por ter estar vivo a culpa em ter nascido!
Pela rua vinha, apenas comum aditício,
as mãos dos homens são para o seu corpo um precipício,
onde seu vulto se rende num mundo esquecido!