O ANDARILHO

Pela rua vinha só o andarilho

ninguém o olhava, nem se compadecia

até mesmo a sombra dele próprio se ria:

alma-galinha a ciscar o parco milho.

Não é a boca, mas sim o buxo que o comia;

e vinha mais cerrado, que a pálpebra quando baixa o cílio.

Mais temente que a mãe, após nascer-lhe um filho

Feito água de latrina, pela ladeira-esgoto descia.

Casado com a morte, contrato vitalício

Que tem este homem, que fuma a alma como um vício?

Que tem por ter estar vivo a culpa em ter nascido!

Pela rua vinha, apenas comum aditício,

as mãos dos homens são para o seu corpo um precipício,

onde seu vulto se rende num mundo esquecido!

Wellington Berdusco
Enviado por Wellington Berdusco em 11/05/2012
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