Maçã

Minhas mãos estão presas por algemas invisíveis. Estou ajoelhado num campo imenso, diante de uma árvore que não dá frutos. A linguagem empobrecida nessa vida, a pobreza, a miséria, desigualdades sociais, lágrimas, a dor e a morte. A consciência formou a matéria, a matéria tornou-se primazia, um tesouro guardado no fundo do destino de cada um. Poucos percebem o amor. Poucos se casam por amor. Eu não pude acreditar, mas a vaidade das pessoas iria lhes indicar outro molde. Agora tudo gira em torno do Poder, as flores que colhi não significam mais nada. A solidão dos seres unicelulares parece repetir-se. De alguma forma, creio, na realidade das possibilidades, que demonstra a inexatidão do mundo, desses que optam pela arrogância intelectual, dos que não sofreram por amor, daqueles que não sentem vontade de amar. Como é triste o mundo para essas pessoas! Como irão encontrar a felicidade? Se vossos corações não são puros. Se tudo é maldade! Por enquanto a luz está longe de ti. E assim permanecerá até que possas ver o mundo com outros olhos, quando sentires a energia do nascer do sol, o perfume das flores, a beleza da magnífica forma do espírito. Parece-me que a tempestade aos poucos se afasta. As algemas que minha imaginação criou desapareceram. Eu pude, finalmente, caminhar pelo campo, sentir o vento no rosto, o sol tocando meu corpo, e aquelas árvores que não davam frutos, agora se enchem de tesouros. Eis que minha vontade se tornou realidade. Nos pulsos meus, permanecem as marcas da prisão. Embora tudo ocorresse na minha mente: as feridas que surgiram daquelas algemas ainda estão aqui. Nessas páginas, nessa vida, em mim.

David dos Santos
Enviado por David dos Santos em 05/05/2012
Código do texto: T3650415
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