O Velho Muambeiro

O velho muambeiro

Todas as manhãs

Arrasta sozinho

Sobre duas rodas gastas

Pela calçada irregular

Suas velhas mercadorias

De não sei de onde

Até a Avenida Afonso Pena com Bahia

(Cadarços coloridos

Palmilhas

Abridor de lata e garrafa

Desentupidor de fogão

Ralo e tampa de pia

Giz chinês de matar barata e formiga

Isqueiros e cigarro de palha à varejo)

Tantos transeuntes que vem e que vão

Não sentem a solidez do velho cansado

Silencioso em seu velho tamborete de madeira

Nem se dão conta do noticiário

Que chia no seu rádio azul de pilha

Os fiscais da prefeitura

Despercebem a notória infração mercadológica

E o velho não é considerado digno de apreensão

Ao pé do imponente Othon Palace

Em pleno caos da cidade

O velho muambeiro

Taciturno não calcula lucros

A tarde vem

Ele desligado o chiado do rádio azul

E recomeça o trajeto de volta

Da Avenida Afonso Pena com Bahia

Até não sei onde

Até amanha

Até quando não sei

Vavá Borges
Enviado por Vavá Borges em 04/05/2012
Código do texto: T3648945