O Velho Muambeiro
O velho muambeiro
Todas as manhãs
Arrasta sozinho
Sobre duas rodas gastas
Pela calçada irregular
Suas velhas mercadorias
De não sei de onde
Até a Avenida Afonso Pena com Bahia
(Cadarços coloridos
Palmilhas
Abridor de lata e garrafa
Desentupidor de fogão
Ralo e tampa de pia
Giz chinês de matar barata e formiga
Isqueiros e cigarro de palha à varejo)
Tantos transeuntes que vem e que vão
Não sentem a solidez do velho cansado
Silencioso em seu velho tamborete de madeira
Nem se dão conta do noticiário
Que chia no seu rádio azul de pilha
Os fiscais da prefeitura
Despercebem a notória infração mercadológica
E o velho não é considerado digno de apreensão
Ao pé do imponente Othon Palace
Em pleno caos da cidade
O velho muambeiro
Taciturno não calcula lucros
A tarde vem
Ele desligado o chiado do rádio azul
E recomeça o trajeto de volta
Da Avenida Afonso Pena com Bahia
Até não sei onde
Até amanha
Até quando não sei