À NOITE
À noite passeiam as sombras
Sob o olhar negro da lua
As almas vagam vazias
Procurando outras pelas ruas
O álcool é um companheiro
Desperta o sono e o desejo
A madrugada esconde a boca
E explicita o calor dos beijos
Aos solitários
Amores fúteis
Aos bêbados
Canções breves
Às prostitutas
Homens vazios
Aos transeuntes
Passos sombrios
Aos sonhadores
Silêncio na rua
Aos trovadores
A luz da lua
Aos drogados
As calçadas
Aos traidores
A madrugada
Aos hipócritas
A desculpa
Aos amantes
Toda a culpa
Aos bandidos
A escuridão
Aos atrevidos
O tapa na mão
Ao incrédulo
A excomunhão
Ao conservador
A tribulação
Aos poetas
Versos mancos
Aos valentes
Os solavancos
Aos policiais
As gorjetas
Aos arruaceiros
A sarjeta
Ao garanhão
O HIV
À sedutora
Seu derrière
Aos insones
A fartura
Aos protestantes
A tortura
À noite desfilam os corpos
Zumbis a procura de almas
Sombras de seres humanos
Que preferem o breu e a calma
O sol teima em aparecer
O cansaço em esmorecer
Assim a noite vai morrendo
Matando quem com ela quer viver