Um mar de tormentas

"Fatalidade atroz que a mente esmaga!"

(Castro Alves)

Castro Alves! Tu, que dormes entre as Flores

Emplumadas por plácidas Canções;

Não chores esta Noite pelas dores...

Mas pelos fatos tristes d'Emoções!

Depois repousa, qu'eu, por teus Favores,

Cantarei teu Legado... Qual Camões!

Entregue à tão pujante Inspiração,

Cantarei tuas Causas à Nação!

Que se calem as Aves... Não se pode

Entre Aves existir tal sofridão!

Albatroz! Tuas penas vãs sacode

Agora! Voa para Imensidão!

Pois ali, em sofrer, Mundo se explode...

Em sofrer, o Orbe vai sem direção.

Calem-se as Aves! Calem-se os seus Mares!

Vem, Silêncio, abraçar os nossos Ares!

Tanta mortalha! Tanto Sonho ali

Acaba-se em sofrer que não se cessa!

Tanta desilusão! Do qu'eu já vi,

Fujo... Corro... Eu aparto-me depressa!

Como pode, no Mundo em qu'eu nasci,

Não haver Luz... Se o Dia já começa?

É tanta infâmia! É tanto dano atroz!

É tanta escuridão... Voa, Albatroz!

Ai! Hórridas figuras... Tudo o quanto,

Ali se vê... São fúnebres visões!

Onde ali pode haver fugaz Encanto

Se lá encontro só desilusões?

Quanta amargura! Quanto desencanto!

Desamor nos galernos Corações!

Oh! Meu Deus! Sei que choras todo dia...

Oh! Meu Deus! Também isso eu não queria...

Caminha, pressuroso, o Sol ardente...

Parece fugir d'algo atro, execrado.

O que seria assaz nefando à Mente,

Para ao Sol causar tanto terror dado?

Mas eu entendo o Sol, pois, certamente,

Vira aquilo que não tem por seu Fado.

Por isso, foge crástino e formoso

Do que vira, ao ver o Orbe desditoso!

Chorosa, a Lua andeja ainda em Flor,

A sustentar mendace, alva Alegria.

Inexpugnável Astro que, à vil dor,

Inerme não se fez quando sofria!

Sendo serva do Sol, em resplendor,

Impõe à Noite a sua Tirania!

Oh! Lua! Tu és uma bela Dama...

Oh! Lua! Tu ostentas nívea Flama...

Tem gente que, da Noite taciturna

Vive o prelúdio tácito, vesano;

Deitado ao chão(à Brisa tão soturna);

A travar com o frio um prélio insano.

Na condição d'espectro, tão noturna!

Ser tudo o quanto pode, exceto humano!

Imbeles Seres! Oh! Pobres coitados!

Ignotos Corações! Olhos molhados!

Tantas guerras! Oh! Abortos partidos...

Fetos por aí... Sonhos abortados!

Oh! Vidas, mui Amores esquecidos!

Desilusão fatal! Prantos queimados!

Prostitutas meninas, Sons Feridos!

Oh! Num submundo vivem os drogados!

Quando isto terá fim? Já não aguento

Tanta dor, tanto pranto tão sangrento!

No entanto, o Senhor é nosso Pastor...

Nesta Vida, Esperança não será

Algo esquecido, pois o terno Amor,

Vem libérrimo e pronto para cá!

O pávido Poeta deste Flor

Espera poder ver o dia lá

E dizer: "Oh! Que as Aves se levantem

E que, lá no alvacento Céu... Já cantem!"

Castro Alves! Tu, que dormes entre as Flores

Emplumadas por plácidas canções;

Não chores esta Noite pelas dores...

Mas pelos fatos tristes d'Emoções!

Depois repousa, qu'eu, por teus Favores,

Cantarei teu Legado... Qual Camões!

Entregue à tão pujante Inspiração,

Cantarei tuas Causas à Nação!

*Decassílabos no ritmo heroico

*Esquema rimático: Oitava rima (ABABABCC), mesmo de "Os Lusíadas", de Camões

15/04/2012

Innocencio do Nascimento e Silva Neto
Enviado por Innocencio do Nascimento e Silva Neto em 15/04/2012
Reeditado em 24/04/2012
Código do texto: T3613396
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