Aparências

Este poema é meramente um desabafo

Para retratar fatos que parecem mentira,

Episódios cotidianos que viram rotina

Diante de um pudor social que perdeu o tato.

Idosa senhora pedia seu óbolo numa esquina

E sua renda diária era depositada num banco,

Todos os dias lá estava a pseudo devota de tamancos

A recrutar os míseros centavos para sua propina.

Durante alguns anos recheou de reais sua conta

Até que um conhecido desvendou-a em seu ofício,

Retirou-a sob censura do seu viver fictício

Dizendo-lhe que viuvez e aposentadoria já eram de boa monta.

De outra vez entrei numa favela por pura ironia do destino,

Fui lecionar particular a alguém que me parecia muito pobre,

Diante da situação isentei-me de receber meus cobres,

Mas de frente com o que vi aquilo era deveras desatino.

Encheu-me a vista tanto conforto e bastante fartura

Que cheguei à conclusão de que viviam melhor que eu,

Na vez seguinte o bom-senso realmente me convenceu

A cobrar meus talentos sem receio nem usura.

Assim muitos ludibriam a boa fé dos inocentes

Que correm e trabalham e “ralam” duro porque são gentes!

Ivan Melo
Enviado por Ivan Melo em 14/04/2012
Código do texto: T3613140
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