Aparências
Este poema é meramente um desabafo
Para retratar fatos que parecem mentira,
Episódios cotidianos que viram rotina
Diante de um pudor social que perdeu o tato.
Idosa senhora pedia seu óbolo numa esquina
E sua renda diária era depositada num banco,
Todos os dias lá estava a pseudo devota de tamancos
A recrutar os míseros centavos para sua propina.
Durante alguns anos recheou de reais sua conta
Até que um conhecido desvendou-a em seu ofício,
Retirou-a sob censura do seu viver fictício
Dizendo-lhe que viuvez e aposentadoria já eram de boa monta.
De outra vez entrei numa favela por pura ironia do destino,
Fui lecionar particular a alguém que me parecia muito pobre,
Diante da situação isentei-me de receber meus cobres,
Mas de frente com o que vi aquilo era deveras desatino.
Encheu-me a vista tanto conforto e bastante fartura
Que cheguei à conclusão de que viviam melhor que eu,
Na vez seguinte o bom-senso realmente me convenceu
A cobrar meus talentos sem receio nem usura.
Assim muitos ludibriam a boa fé dos inocentes
Que correm e trabalham e “ralam” duro porque são gentes!