Cidade
Tempo invadido
tomado de assalto
Polícia ou bandido?
Mãos ao alto!
Mãos ao alto!
Mas tempo não pára
Nem pede passagem
Pior! Relógio movido
à politicagem.
Sábios os loucos
Nas ruas, nos bares
O troto, o trocado
Puta, truco,
biliares.
De cima a fumaça
Ofuscando lares -
Das senhoras fábricas,
não a dos rapazes!
Pois estes, sorrindo
às moças nas praças
Divertem-se o quanto -
mocidade passa!
Comércios, Correios,
Calçadas, calmantes
De dia bagaços
Na noite,
diamantes.
Ninguém sabe
Ninguém conta
- pássaros não falam -
Os meninos trabalham
Os patrões descontam.
Jardins acinzentados
Vias públicas choram
Via de regra agora,
os bueiros
imploram:
Amaldiçoados! -
O lixo transeunte
Eis que chora enchente
Vomita chorume, e
chove carbono
nos ombros
frequente.
Noite amarelada
Após dia escuro
Virado hoje li
Teus recados
no muro.
Amores perdidos
Encontros e morte
Entre um gole e outro
caem os menos
fortes
Aqui nunca pára
Ninguém, nada pára
nem a ditadura
Na rua -
Armada!
Nem mesmo semáforos
Pedágios na esquina
Chapéus rente às coxas
Mendigos e impostos.
Expostos nos quadros
os seus mais votados
Tão engravatados -
Sufocam seus fados?
Se dizem os donos -
nossos funcionários!
Tempo invadido
Corrido, escarrado
E hoje, na cidade,
Há vagas pra
finados.