TÉDIOS
Dois homens numa janela,
observam a rua à frente dela.
Emudecidos pelo ócio e a quietude da vila,
se veem rendidos à mândria que os esquiva
de qualquer negócio ou ânsia que lhes desse sentido à vida.
Surge então um estranho manquejante
com feições de ancião e traje mendicante,
que ensurdecido pelo enfado e trilhando a rua tão encurvado,
não pode ouvir do primeiro – "- Guerreiro injustiçado pela vida!"
e nem do segundo – "-Velho acabado pela pinga!".
Seguem-se minutos de silêncio fastioso
quebrados de relance pela sirene da viatura,
cujo policial, pouco cuidadoso ao guiá-la tão ligeiro,
não pode ouvir do primeiro – "-Vai a pegar algum ladrão!"
e nem do segundo – "-Depois do café com pão!".
Uma nova quietude lhes sobrevêm.
Porém antes que uma nova cena lhes atarefasse a garganta,
do fundo da casa a governanta, ao vociferar sem nenhum receio
fez saltar o primeiro: "-Dos anciãos, o mais tunante!"
e fugar o segundo:"-Dos mancebos, o maior pedante".