Raça
Nasceu em dia límpido
Lágrimas mansas derramou
Do ventre da mãe penitente
Tal criatura amena e perfeita germinou
Ninou em berço branco
E por pureza só queria amar
Mas eis que a transparência do céu haveria de escurecer
E temporal era sua inocência
Que neste momento infame deixou-se render.
Aprendeu a falar, julgou.
Arriscou a andar, guerreou.
Criou fronteiras, disse que não
saberia lidar com a prenda que a imperfeição alheia traz
Sua essência instintiva infligiu o sofrimento
E a dor da batalha foi tenaz.
A empunhar sua arma infalível, dividiu-se em dois
Os sinos da igreja nunca mais entonaram ao mesmo tom
O estranho e o belo já não eram um
E o eu jamais seria suficientemente bom
Criou família sem amar ao próximo
E segurando sua cria em posição de brado as nuvens turvas
O ensinou a clamar a nação
Pelo ser irracional cultivou atenção
E da cidade fez selva
E do exército fez selvagens
E tal homem revelou ser animal
Rugiu pra lua todo seu mal
E ordenou pra que sua raça não tivesse final.