POESIA NEGRA
LEVARAM-NO

Levaram-no!
A casa ficou sem ninguém
O barulho da porta ao bater
Com o barulho do vento se misturou

Levaram-no!
O chorar das crianças
Sem ninguém

Levaram-no!
O cansaço repartindo-se por todas as almas

Crianças, crianças,
Não chorem

Levaram-no!
A casa ficou sem ninguém

Mulheres olhando
Sem ver
Mães erguendo mãos para o céu
Sem ver nada

José Carlos Schwartz
(Bissau: 1949-1977)
 

Fartas gotas de sangue mancham a chibata
Mãos que a impunham com implacável furor
E escrevem  dessa dor, sua história
Como uma balela ideológica e inglória
Na óptica do senhor escravocrata...

Com a tinta vermelha de nosso sangue
E o penhor de tantos  "Ais" em grito aflito
Nosso suor lava os sulcos dessa terra
Nossa alma encarnada no infinito...
Vem Gonçalves e faz jus ao nosso pranto!
Junte-se as nossas vozes em negro canto...

Até quando Zumbi lá dos Palmares?
Até quando, irmão Nelson Mandela
Chorarão sem saber nossas crianças
Erguerão suas mãos em esperança
Pretas velhas a espera dos filhos delas?...

Até quando essa vida subumana
Que mói-nos feito moenda à cana
E o bagaço de nós fecunda a terra
Até quando essa dor que nos encerra?!!!

Desterrados...Não mais temos mãe, nem filhos,
Não temos irmão, nem lar, nem flores.
Nossa  poesia é da cor da perseverança
É forjada no escuro de uma sela
Nos porões do submundo da sociedade
A ferro e fogo nos versos de nossas dores...
O banzo de saudades de nossa terra.



Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 25/03/2012

 

 

 
Nina Costa
Enviado por Nina Costa em 25/03/2012
Reeditado em 31/07/2020
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