Morangos Mofados

Há poesia guardada

nos cabelos cobertos

com panos bordados.

Nos pés nos calos,

nos dedos da mão

enrugada,

a poesia não dorme,

não fede, não cheira.

Espalha-se no lixo,

revira-se nas telhas

dentro dos quintais

das casas de lata.

Há poesia

entre espelhos quebrados,

nos potes de vidro, papel

e plástico.

Em pedaços,

um poema lava-se na língua

lambendo o nada.

A boca fechada,

masca e cospe

a flor esmagada.

Nas sombras dos muros

restos de ossos temperam

morangos mofados.

Raimundo Lonato
Enviado por Raimundo Lonato em 25/03/2012
Código do texto: T3574384
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