Clamor de uma raça

Voz do sangue
(Agostinho Neto -autor angolano)
 
Palpitam-me
 os sons do batuque
 
e os ritmos melancólicos do blue

Ó negro esfarrapado do Harlem
ó dançarino de Chicago
 ó negro servidor do South

Ó negro de África

negros de todo o mundo

eu junto ao vosso canto
a minha pobre voz
os meus humildes ritmos.

 Eu vos acompanho
 pelas emaranhadas áfricas
 do nosso Rumo

Eu vos sinto
 negros de todo o mundo"


Em cada canto do mundo
Onde pisaste, descalço e humilhado
De corpo e alma assim ferido e desterrado
Um canto, um clamor inda ressoa:

Chora ainda tua ausência n'África
Pais, filhos e netos desgarrados
Ouve-se o grito africano do passado
Ecoando livre pela africanidade...

No sangue do criolo menosprezado
Correndo na veia do neguim pivete
Nas ruas com o preto veio mendigo
Na lascívia da mulata prostituída

Alforriados na miséria pela vida
Subindo da senzala pra favela
Do banzo, a saudade de uma terra
À luta em prol da sua negritude

E eu que herdei de ti os negros traços
Que marco meu caminho com negros passos
"Vos acompanho pelas emaranhadas áfricas"
Nas vozes que retumbam pelo mundo
No canto e no clamor de uma raça...



Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 22/03/2012










Nina Costa
Enviado por Nina Costa em 22/03/2012
Reeditado em 20/11/2012
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