TUDO É DESGOSTO NA VIDA
TUDO É DESGOSTO NA VIDA
O pobre, logo ao nascer,
Dá seu primeiro gemido
Sua mãe diz ao marido:
“É um menino; vem ver!”
Ela fala com prazer
E com voz embevecida
Não está apercebida
Do que espera esse coitado
Em cama de vara deitado;
Tudo é desgosto na vida.
Assim que chega ao mundo
Faminto, já quer mamar
Sua mãe, a soluçar,
Vê o filho moribundo;
Em desespero profundo
Tem nos peitos uma ferida
De doença adquirida
Sem leite pra amamentar,
E o coitado a gritar;
Tudo é desgosto na vida.
Os anos vão se passando
E ele sobreviveu;
Muita farinha comeu
E já está estudando
Mas só em bola pensando
Não vê que a sorte, atrevida
Não vai lhe trazer guarida,
Nesse ofício complicado
E ele chora; coitado
Tudo é desgosto na vida.
Sequer o Ensino Médio
Deu pra ele terminar
Pois parou de estudar
Não tinha outro remédio;
A vida agora é um tédio
E sua mãe entristecida
Com voz bem estremecida
Diz: “Tu tens que trabalhar,
Pra no sustento ajudar!”
Tudo é desgosto na vida.
Ele arruma um emprego,
Mudando seu dia-a-dia;
É aquela agonia,
Mas ele não pede arrego
E nesse desassossego
Continua sua lida
Cada vez bem mais sofrida
É triste o dissabor,
Pra quem tão pouco estudou,
Tudo é desgosto na vida.
O salário é de fome
Mas tem que continuar
Sequer pensa em parar
Afinal, homem é homem!
Um pensamento o consome,
Deixa-lhe a mente aturdida:
Uma mulher desvalida
Quer com ele se casar
Pra sua fome saciar;
Tudo é desgosto na vida.
E sem ter como escolher,
Casa com a dita cuja
Ao bom senso sobrepuja
E com ela vai viver
E muitos filhos vão ter
Pra repartir a comida
Que já é tão resumida
Mas pobre é assim mesmo
Nasceu pra viver a esmo;
Tudo é desgosto na vida.
Mas ser pobre não é feio
Nem tão pouco é defeito
É uma questão de conceito
Do social e do meio
Pois Jesus, tão pobre veio
À humanidade perdida
De amor e paz desprovida,
Mostrar ao pobre sofredor
Que, sem Ele, que é o amor,
Tudo é desgosto na vida!