CATEDRAIS DE OSSOS
Este poema foi escrito um anos após o atentado das torres gemêas.
Imagens vivas, através da tela, em nossa sala;
Filme vivo, em tempo real, a cores nos cala!
E a argamassa, antes monumento, agora é entulho.
Barba longa, dentes alvos, rindo e festejador,
Do iconoclasta ato dos camikases de sua infeudação.
Mundo apalermado, estarrecido, todo interjeição!
O revide aos fanáticos nefastos, num estalar de dedos,
Veio vestido numa capa disfarçada de patriotismo.
Massacrando como lhe foi feito em um zás:
Abdicaram da oportunidade de proclamar a paz!
Precisamos entender a ebulição das eras;
Qual a razão das mônadas e das moneras?
Por que o principal elemento é o carbono?
E por que compõe a vida e a morte?
Precisamos ouvir o choro das corredeiras;
O murmurar das ondas em mares de fronteira;
O gotejar de lágrimas das noites úmidas;
O ladrar de cães - uivos chorosos - em despedidas;
O arrulho das folhas no agasalho de noctivos ventos;
A frieza de ações funéreas, com pompas e intento.
Precisamos acompanhar de perto a transição
Do homem, animal, ainda em formação,
Que constroem com barbárie monumentos,
Ímprobos e prístino em desatino, se auto destrói.
Precisamos ouvir os canhões bramindo a guerra,
As razões, no bojo, que são ditas que lhe encerra;
Andar sorrateiros sobre os escombros;
Ver grilhões forjados na trempe da discórdia;
Descobrir inflados mentores fátuos - que biscas!
Com Historísmo, imponderável nume, ninguém trisca!
Precisamos visitar góticas catedrais de ossos
Que alinhadas em desarmonia, são só destroços,
De altar mor de resplendor sem brilho;
Onde candelabros de crânios ardendo em velas,
Iluminam grandes vitrais, caninos enfurecidos!
Ali uma corja ossiforme traz seus punidos.
Quanta mazela! - Visão do longe sem perspectiva.
Púlpito trono do ultraje. Ação infame!
Com um perônio infectado, batuta funesta,
Conduz malfazeja e daninha orquestra!
Atitudes pérfidas da veterana horda hominal
Emergem de encéfalos súcios, ungindo a confraria do mal.
Pugnazes! Psiu! Não há sonhos para os mortos!
A morte... Que tenha pretensão! - nos divorcia da vida.
A imensidão de polme da caliça ainda, virgem,
Permanecerá enquanto defloradores não surgem.
Cinza agora, resultado da ação dos incendiários;
Ainda dormita no seio um potente braseiro.
Uma legião de espectros rígidos milite consorte
Rasga a cortina e entra com sua grife - a morte!
Agora uma figura
Ossama feita, impura...
Vai cambaleando,
Vai andando, andando;
Pisando ogiva, pisando mina...
Chutando ossos de carnificina!
E a dissoluta figura errante,
Na jardinagem de gleba bacante,
Semeia messes futuras,
Onde feneceram criaturas.
O homem se brutaliza
Quando a morte banaliza!
Exibe com orgulho, ações,
De sua bandeira às nações
E na contra mão
De seu Alcorão
Chama de jihad,
O ato de matar.
...Vermes roerão suas carnes frias,
Que ágape visceral será um dia!
Seu cadáver, cantado em poemeto,
Futuramente esquálido esqueleto,
Sorrirá solenemente à memória
Contando sua funesta história!
Mesmo com tudo que terá sofrido,
O homem nunca terá aprendido
Que a glória da morte é inglória
E contra a vida não há vitória!
Morrendo seu - um único - filho
Morreu do seu hino o estribilho!
Para o insurreto,
Deus não abre portas!
Ele escreve correto
Em linhas tortas!
Não acredito, mesmo
Chamada de guerra santa,
Que mortes havendo a esmo
Deus aprove brutalidade tanta!
Ora, Deus é justo e é vida!
- São todos os filhos de Deus!
Essa celeuma é cancro, é ferida,
Ele não aprova isso entre os Seus.
Apologético, sistemático, sintético,
Tu, ocaso integrado na noite
Desmoronando o mandar do dia estético,
Promoveu a desorganização da matéria e foi-te,
Levando contigo o alumiar do sol:
O breu tomou conta logo após o arrebol!
Ó corpo que vestiu pólvora,
Vê teu rastilho na multidão.
Não está vingando a tua hora
Com tua própria explosão!
Ó víbora! Ó aracnóide com peçonha,
Tua experiência de vida é medonha!
Qual a vida, qual a experiência,
Está aqui, sendo referida
Se todo dia nova inexperiência
Ofende-nos ou é ofendida
Batendo insistentemente à nossa porta?
E... Simplesmente como aprendizagem se suporta!
O dinheiro corrompe - que insensatez!
Deixa o homem ranzinza, opressivo.
É a ignomínia do corruptor outra vez,
Flagelando a ignara gente, o lesivo!
Dizendo - meu Deus! - ter boa intenção,
Faz maldade com avidez o glutão!
Meu Deus que hospício!
Por que tanta violência?
Por que tanta vida em sacrifício?
- Ó Deus, misericórdia, clemência!
Que proceder escuso, feio.
"De boa intenção o inferno está cheio!"
Vais, devasta ó solitária dama!
Devastas com teu canino encabado,
Honra o teu nome a tua fama.
Cádi da mina acaba o inacabado!
...E justificando a tua visita:
Garrida - É por amor! - Grita.
Gandhi, Luther King, Antônio Conselheiro,
Padre Cícero. Acordem! Acordem!
Por Cristo, venham alvissareiros,
De suas últimas moradas levantem!
Ó pacificadores, ó revolucionários,
Tragam-nos uma Tereza de Calcutá!
Que chovam milhões de voluntários,
Darcs, Anas Néris - Euclídes vem denunciar!
Acabem com essas guerras étnicas, religiosas, urbanas,
Que seguem com seus rastilhos, imolando vitima
Inocentes. Esse proceder à humanidade profana!
Não importa onde esteja à morte fica íntima.
Na rua, em casa, o cidadão está acuado.
Involuntários, agora, somos reféns do medo.
Cristo, Cristo! Em teus braços quero ser amparado.
O exílio domiciliar é o nosso refúgio e degredo!