FILIGRANAS

A brisa vem a passeio

no jardim em frente à casa.

A brisa falando à tarde,

a tarde falando à brisa.

A gente aqui na sacada

repara a brisa a passeio.

Muitas crianças brincando,

um casal de namorados...

Meninos descontraídos

botando arraia a subir.

Dois vagabundos andando,

sentado a um canto um mendigo.

O pai... - só pode ser pai! -

Um homem empurra o carro

de uma criança de colo,

tendo a mulher ao seu lado.

Olham os dois um garoto

que roda de velocípede.

A noite vem devagar

cobrindo a face das coisas

e engole a tarde sem pressa.

Acende-se a luz elétrica

que espanta os dois namorados...

O pai recolhe a família.

A gente aqui na sacada,

não vê ninguém mais na rua,

a não ser os vagabundos

e o cabisbaixo mendigo

que se aproximam da noite,

qual se a noite fosse sua.

A brisa falando à noite,

a noite falando à brisa

e se afundando no tempo.

O mendigo e os vagabundos

na praça que está deserta

dos que têm onde abrigar-se.

A gente aqui na sacada...

O mendigo e os vagabundos

se aproximam da marquise

para abrigar-se da noite.

A noite, Deus, por que noite,

se há mendigo e vagabundo?...