Mulher negra
Mulher negra
Deixem-me vestir de verde e amarelo
que eu também sou brasileira.
Não me vejam só pela cor da minha pele
nem me chamem de mulher de cor,
porque a cor não é referencial de vida.
Não me lancem às raízes africanas
nem me devolvam à força, aos meus ancestrais
como um lixo atômico que ameaça.
Foram correntes que nos arrastaram
quando noutro continente buscaram
esse povo que hoje é a minha raça.
Hoje o solo que piso é esse
a terra que me sustenta é essa
e esse povo que me rodeia é o meu.
Não posso sentir saudade
da terra que nunca vi,
de um povo que não conheci,
de um tempo que já morreu.
Não trago pelo corpo, cicatrizes de açoites,
lembranças cruéis de troncos,
de senzalas ou de quilombos,
que o mundo já esqueceu.
O que me dói de verdade,
são as algemas do preconceito,
correntes invisíveis que discriminam
e me estraçalham o peito.
Porque apesar de ser guerreira,
negam-me o direito de ser gente,
mesmo eu sendo brasileira.
Também quero direitos iguais.,
colher os frutos que minhas mãos semeiam...
Quero me sentir presente,
entre os iguais que ainda me incendeiam,
nas fogueiras aniquiladoras de ideais.
Eu luto contra isso de arma em punho,
essa arma eu chamo de amor.
Dela eu faço minha bandeira,
que carrego nos braços durante a luta.
São os braços de uma mulher verdadeira,
que tem raça, não importa a cor...
Que veste a alma de verde amarelo
e entoa nessa terra o grito de dor,
no espaço ocupado pela justiça e esperança,
como grita toda mulher brasileira