Quatro dias de Setembro.

Quando fui pego pelo DOI-CODI

Por causa do AI-5,

Fizeram-me vários cortes

E disseram que eu me cortara com o cinto!

Quando fui pego no Araguaia,

Arrancaram os dentes e as digitais

E usaram alicates e navalhas

Em mim e em outro rapaz!

Quando me pegaram para valer

Eu nem sabia por que apanhava

E eles queriam tanto me bater

Que mesmo que eu falasse ninguém escutava!

Disseram que um embaixador

Fora sequestrado por uns subversivos

Que queriam espalhar o terror

Sob a bandeira do socialismo!

Naqueles quatro dias de setembro

Tudo que eu comia vomitava

(agora sim me lembro),

De tanto que eu apanhava!

Aquele tempo acabou

E hoje o combate é pelo penta,

Mas de muitos nem foto restou.

E hoje há quem não queira, mas ainda se lembra!

Hoje as veraneios vascaínas

não circulam mais pelas praças,

mas as fúrias assassinas

podem estar em qualquer um nas praças!

Hoje os assassinos

não estão a favor ou mesmo contra o estado.

Pode-se ser um doce menino

ou até um cidadão bem conceituado!

Mata-se tanto por aí

que não sabemos quem é vítima ou psicopata.

A liberdade e libertinagem só fez eclodir

dementes que por qualquer coisa matam!