MARCHA SECA
Vida cabocla,
pé no barro ressecado,
mãos vazias,
sol à pino levantado.
Céu limpo, calor tórrido,
costado doendo
na peleja do simplório...
Rasteja o corpo
num existir atropelado.
Necas de chuva
na perdida plantação.
Cratera racha e dissolve
a esperança que remove
as brechas duras do chão.
Enxadas enferrujando
boca seca praguejando
contra o horror que presencia.
Colheita colhida em nada!
Pau à pique, obra morta,
dura pena que suporta
o inferno ardendo em brasa;
é o começo da estiada
que aperta o nó da encosta.
Pé caloso, nodoso,
atravessa, pisa, luta
Sobre a vaga promessa bruta
da miséria se acabar...
Farejam novo lugar...
E lá se vai marchando a Seca
cruzando o sertão que deita
Pra aquela febre curar
na chuva que vai voltar.