MARCHA SECA

Vida cabocla,

pé no barro ressecado,

mãos vazias,

sol à pino levantado.

Céu limpo, calor tórrido,

costado doendo

na peleja do simplório...

Rasteja o corpo

num existir atropelado.

Necas de chuva

na perdida plantação.

Cratera racha e dissolve

a esperança que remove

as brechas duras do chão.

Enxadas enferrujando

boca seca praguejando

contra o horror que presencia.

Colheita colhida em nada!

Pau à pique, obra morta,

dura pena que suporta

o inferno ardendo em brasa;

é o começo da estiada

que aperta o nó da encosta.

Pé caloso, nodoso,

atravessa, pisa, luta

Sobre a vaga promessa bruta

da miséria se acabar...

Farejam novo lugar...

E lá se vai marchando a Seca

cruzando o sertão que deita

Pra aquela febre curar

na chuva que vai voltar.

Rose Arouck
Enviado por Rose Arouck em 14/01/2007
Código do texto: T346752