ANJO DE ASAS NEGRAS
Jorge Linhaça
Ah o mar, esse infinito reino de Netuno
onde passeio à noite sob a luz clara do luar
Observando a tudo e a sempre meditar
imerso nos meus pensamentos profundos
Entre fragatas voando em seu passeio noturno
vendo as ondas lamber as areias da praia
trazendo conchas multiformes e a escumalha
dos detritos lançados pelo homem em seu leito
Mais além um barco de arrastão, perfeito
40 homens a puxar a rede qual uma mortalha
Braços latejando, gritos, homens laborosos
esperando pelos seus peixes, pelo seu quinhão
trabalhando pesado à beira da exaustão
seus olhos cansados mas sempre esperançosos
de que a rede venha cheia de peixes deliciosos
Aproximo-me para ver o resultado da pesca
a cada puxar da rede franzo a minha testa
entristeço-me com o que percebo nesse ver
as redes cheias de lixo, que triste conhecer
a destruição do mar à que o homem se presta
Como anjo de asas negras, emerge a poluição
escancarada aos olhos de quem pode ainda ver
pedaços de pau a rede a várias vezes romper
poucos peixes aparecem ao fim do arrastão.
Converso com o mestre sobre minha inquietação
e a resposta dele me faz tremer de terror
me fala do lixo retirado sempre nesse labor
Eu vi plásticos, latas, peças de roupas de banho
tapetes , vassouras, objetos mais estranhos
Vi nos olhos daqueles homens o ar estupor
E as gotas do mar brotaram em meus olhos turvos
salgadas lágrimas do meu decontentamento
pérolas nacaradas dos meus sentimentos
ao pensar nos braços cansados dos absurdos
Que buscam no mar o seu sustento , mudos
Ao ver suas redes aviltadas pelos dejetos
restos de uma pseudo civilização de abjetos
Que do imenso mar fazem a sua maior lixeira
pensando que tudo se resume às brincadeiras
de fins de semana,e o mar vira um lixão a céu aberto