Apocalipse

*Um Apocalipse em quatro partes

I

Meus Olhos já não querem mais ouvir.

Meus Ouvidos já não querem mais ver.

Minhas Mãos já não querem mais sentir.

Meu Coração já não pode escrever.

E Do que adianta tanta riqueza,

Se minhas retinas avistam dor?

Em tíbios piscares, vejo pobreza.

Pupilas dilatadas de langor!

II

No Continente de infindos desertos,

Onde o Sol parece brilhar mais perto,

É queimada, por males, a esperança...

Barrigas, pela fome, são comidas!

A Alegria, por sofrer, é vencida!

Morrem lá, famintas, negras crianças...

A Vida tem seu valor reduzido.

Os Sonhos perderam o brilho intenso.

Meu Deus! Meu Deus! O mundo está ferido!

Um grito, um pranto, ali sofrer imenso!

Vejo uma mãe, num andar lacrimoso,

Traz seus filhos, num andar desgostoso,

Procurando o que comer.

O sol ilumina seus negros rostos.

Na escuridão, seus Sonhos decompostos.

E na Vida, a fenecer!

Aquele nem consegue andar direito.

O outro tem a rua como seu lar.

Longe do que se diz ser tão perfeito,

Nosso mundo azul precisa mudar.

O Sol não possui mais aquele brilho.

Mães! Cuidado com seus amados filhos,

Afastai-os da maldade!

A Lua agora chora todo dia!

Infindáveis momentos d'agonia!

Onde está a Felicidade?

Na esquina, a menina seu corpo vende!

No desespero... Um aborto se estende!

A ganância nos Corações humanos...

Crianças têm a Inocência roubada!

Moças são cruelmente violadas!

Terra bela, porém, seres insanos!

Meus Olhos já não querem mais ouvir.

Meus Ouvidos já não querem mais ver.

Minhas Mãos já não querem mais sentir.

Meu Coração já não pode escrever.

III

Eu queria um mundo fantasiado,

Um planeta, por Sonhos, habitado...

Um Sorrir níveo nos lábios divinos.

Este luzente riso brilharia,

Na Eternidade, plácido seria!

Cruzar-se-iam os passos dos destinos!

No entanto, tão triste realidade.

Eu não consigo as lágrimas conter.

Mentira se faz dona da Verdade.

Lágrimas como plumas a descer.

O que vejo ali? Discriminação!

Negros ou brancos? Humanos serão?

Um matar desnecessário...

Vêm guerras por motivos tão simplórios!

Vão sorrisos por rumos merencórios!

Um combater sanguinário!

O sangue, após, vai sendo derramado

E vermelho deixa o solo arenoso.

Corpos tão tétricos, ensanguentados,

Cenas d'um momento nada ditoso.

Guerreiros, sem Glórias, estão morrendo!

E Guerras, aos montes, acontecendo!

Neste falso circo, lúgubre...

Filhos perdem seus pais, perdem a Vida!

Coitados! São crianças esquecidas!

Desterro feroz, tão fúnebre!

Filho e mãe num abraçar lacrimoso,

E Num sentir pulsante, desgostoso,

Têm diminuído ali o seu fulgor;

Que o patriarca de tudo (perdido),

Havia, desta dimensão, partido...

Vida por guerra...guerra causa dor!

Eu queria um mundo fantasiado,

Um planeta, por sonhos, habitado...

Um Sorrir níveo nos lábios divinos.

Este luzente riso brilharia,

Na Eternidade, plácido seria!

Cruzar-se-iam os passos dos destinos!

IV

Não! Não! Tudo isso terá que acabar!

Meu grito não pode ser ignorado!

Quero ver Sol novamente a brilhar!

O Mar está furioso, agitado!

O Mar também quer voltar a sonhar!

E deste mundo, o mundo está cansado...

Um brado que vem sofrido e profundo!

Um grito engasdado do velho mundo!

E, qual um lustroso instante de eclipse,

Terá fim verdadadeiro apocalipse!

O Firmamento estará radioso...

Aves voarão livres pelos ares!

Lua e Sol trocarão ternos olhares!

O Mar estará fúlgido e formoso!

*Nas estrofes 4, 5, 9, 10, os versos que rimam entre si possuem a mesma métrica. As demais estrofes são de versos decassílabos.

17/01/2012

Innocencio do Nascimento e Silva Neto
Enviado por Innocencio do Nascimento e Silva Neto em 18/01/2012
Reeditado em 15/07/2012
Código do texto: T3446800
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