Indiferença

Ignoramos o lamento do carente,

Que teima em cruzar pela gente,

Estendendo suas mãos pelas esquinas,

Cumprindo sua involuntária sina.

Anseia pelo pão

Que lhe dê o físico sustento,

Quer um simples abrigo

Para livrá-lo do relento,

Pede o escasso afeto

Nunca recebido,

Busca um transitório olhar

Para ser compreendido.

Herméticos em nossos pensamentos,

Suas palavras nem as escutamos,

Dia a dia religiosamente demonstramos

Novos dons recém-adquiridos:

Visão e audição sempre seletivas,

Uma enxerga, mas faz questão de não ver,

A outra ouve, mas não consegue compreender...

Seguimos em frente defendendo nossa crença

De que é normal essa acintosa indiferença...