GRÁVIDAS DO CRACK

Depois da tempestade

Veio a enchente

Ventos velozes

Almas ao vento

Ao relento

Tudo perdido

Depois de todos os oráculos

Búzios

Consultas

Nada constatado

Tudo loucura e lucidez

Cidade.

Tudo é caos e fertilidade

Crack

Cacos espalhados pelo vale dos aflitos

Crianças paridas na rua

Sem nada

Amparo

Alimento. Sem poesia

Abrigo

Tudo é dor e prazer pelo chão

Cidade.

A vida consumida

Como quem fuma um cigarro

Bagulho louco

Insanidade explícita

Socorro!

Teatro dos aflitos

Um grito implícito

No ar

Nas ruas, calçadas

Tudo é desprezo

Cidade.

O prazer é um vício

Pra ser fumado aos poucos

Ou engasga, empapuça

Em loucura se verte

Inverte

Veste-se de besta e cavalga no breu

Rói a mente

O corpo aniquila

E não quer pouco

É tudo ou nada ou mata.

É crack é morte

Desespero

Cidade.