Julgamento
Estou muito triste por ter matado alguém
julguei ser o inimigo público, eu recuo
vejo que todo o esforço foi improfícuo
logo eu, que pensava estar fazendo o bem
Minha arma já esta vazia, tenho regido
as notas tristes de um requiem que dói
a astuta bala alega nunca ter percebido
estar entrando no corpo de algum herói
Eu vou ao tribunal esperando com meu medo
ao sofrer o mesmo castigo de Édipo, o grego
que por um crime ignorante foi julgado, pego
tento culpar o gatilho da arma e não meu dedo
O juiz olha para mim a fim de me acusar de ridiculo
pois qual sentimento há nesses objetos, qual vinculo
há nos caminhos da bala, sempre tão retos e corretos
calmamente eu tento mostrar lhe que pela minha vida
as almas humanas foram enigmas com frases corridas
e que sempre tive mais vinculos com os meus objetos
A bala, por sua vez, ao sentir que talvez não tardasse
que o julgamento chegasse em interminável impasse
tentou subtrair-lhe a culpa inerente pelo triste evento
sou o soldado apenas, impelida pelo general – gatilho
poderia ter sido uma outra se fosse outro o momento
mas o soldado trata os superiores como o pai, seu filho
A arma, sabendo que deveria usar de alguma maior artimanha
para que aquele seu processo julgasse a sua causa como ganha
disse: sou aquela por trás de todas as guerras entre suas nações
mas por ela mesma sou controlada desdo tempo mais hodierno
sou somente a porta voz mensageira das cartas do seu governo
assim como os são as ogivas, as bombas nucleares, os canhões
Ainda mais juiz, você sabe muito bem da tua parceria antiga
com a familia da vítima e como ela tem sido inegável amiga
comeste até se empanturrar de nossos banquetes, nosso vinho
tem te esquentado nas viagens que nós lhe pagamos a Europa
não posso crer que tens esquecido do teu busto em nossa copa
com certeza é este o culpado e criminoso e não eu, seu vizinho!
Sem piedade nenhuma ele me da a derradeira sentença
você há de ser um gauche forçado a se relacionar e ir ter
conversas com gente que não entende seu modo de viver
quebre tua muralha interna e tente traduzir a sua crença!