Por nós
Acorrentadas no fundo do mar,
Espécies marinhas costumam fluir
Para cima, tudo que tem energia
Enquanto a dor não cessa e o sol se vai
Quando em sua vida nada lhe resta
Além de um pano de chão
As verdades antes, camufladas, agora
Parecem que estão sendo desveladas.
E diante do fato, nu, os abismos que dilaceram
D’alma que encanta o museu
É vazio, no frio que sentimos, mesmo que,
Na realidade sombria, os animais venham a ser,
Apenas seres humanos!
Vossa imoralidade peculiar, da arquitetura
Em que tudo se deposita no inútil
Quem somos nós? A voz indaga.
A face estampa o terror, nos olhos inocentes
De uma criança, alvejada por um tiro,
A mulher nua, cortada na rua, por um
Animal que se diz Homem, que se sente homem,
Tanta sujeira percebida; causa sérios danos.
Na mente de um observador passivo
Nada além das vozes. Nada além de mim.
Fazem parte desse sistema caótico, podre,
Ameaçado e vilipendiado desde o nascimento,
Meus anseios, enlatados por seres obsoletos
Cuja função social era corromper-nos.
Atirei meu corpo contra o fogo, rasgando a carne
Queria ser ouvido, mostrar minha retórica,
Nada adiantou, pois aqui não existe liberdade,
O monólogo dos bons samaritanos é mais-valia
Para os acumuladores de promessas...
A chuva molha a rua, o rosto, as mãos,
Tudo que ardia, agora silencia,
Nossa vida é tormento, espanto,
A luz do dia é milagre, é deus; um deus morto.