A VOLTA DOS QUE NÃO VOLTAM
Aos migrantes nordestinos - BR 116- Rio-Bahia - 1978
Trinta e oito passageiros
miscigenação de dores...
Estes pobres brasileiros
excluídos, sofredores
que vêm de Guarabira,
do agreste paraibano...
Não trazem no rosto, ira,
grandes ilusões e enganos...
Vão tentar sorte no Rio,
São Paulo também lhes serve...
Morrer de fome ou de frio,
ou o que Deus lhe reserve...
Longe de ações desonestas
quase sempre sem guarida,
são pessoas bem modestas,
passam nômades na vida...
E poucos conseguirão
vencer na grande cidade
que cresce por sua mão
e esquece sua identidade...
Nas obras mais suntuosas
conseguem fácil acesso...
Nas mais cruéis, perigosas,
morrem em nome do progresso...
Quantos deles pereceram
na ponte Niteroi-Rio,
nas fundações que cederam,
no concreto que ruiu?
Conheço bem essa gente,
sou capaz de imaginar
a esperança que ela sente,
ganhar dinheiro e... voltar...
Os olhos ardentes, sinto
róseas mensagens brotam
no quadro da vida, pinto
... a volta dos que não voltam...