* * * NATAL * * *
Querem que eu escreva
Sobre o natal
E eu sem saber
Sobre que natal
Se o natal dos indianos
Dos europeus ou americanos
Dos árabes ou africanos
Do natal pagão
Antes de ser cristão
Como todas as festas
Que tinham a ver
Com as fases da lua
Com as sementeiras
Ou as colheitas
E hoje são apenas
Festas cristãs
Do natal da caridadezinha
Dos exploradores e opressores
Que de sorriso amarelo
E mão no peito
Pensam e sabem
Que dando umas esmolas
Ficam redimidos
Dos seus pecados
Do natal dos mafiosos
Corruptos sem princípios
De governadores deputados
Juizes gestores bispos e cardeais
De banqueiros e pseudo-cientistas
Dos laboratórios e seguradoras
Do natal das multinacionais
Dos hipermercados
E grandes superfícies comerciais
Do natal das crianças
Que vivendo na miséria
À fome e de doença
Morrem diariamente
Sim
E de três em três segundos
De três em três segundos
Morre uma criança
E dizem-me
Que estamos no século XXI
Do natal dos pedófilos
Que usam e abusam
De crianças indefesas
Sem que a justiça actue
A começar pela Igreja Católica
O primeiro lugar onde tal prática
Nunca devia existir
E é precisamente onde mais existe
Pois os Papas cardeais e bispos
Só falam pressionados
Pela opinião pública
Mas na prática
Pouco ou nada fazem
Para acabar com tal barbaridade
Do natal das mulheres
Vítimas de tráfico sexual
E servidas nas ruas e bordeis
A homens engravatados
E acima de qualquer suspeita
Do natal das famílias
Onde milhares
De mulheres e crianças
São violadas violentadas
E espancadas diariamente
Não só por maridos
Padrastos e madrastas
Mas também por pais
Tios e avós
Do natal dos velhinhos
Que antigamente
Eram levados para as montanhas
Onde morriam ao frio e à fome
E hoje são abandonados
Em lares e hospitais
Tal como acontece
Aos cães ou gatos
Que vão parar ao canil
Digam-me
Sobre que natal
Querem que eu escreva
E pode ser
Que um dia eu o faça