DELITO



Mulher:
angélica, desceu ao campo-santo,
sem tributo nem vela
– qual pano ou madeira!...


Massa carnal na concha da cureta,
– dejeto ou escória –,
posterior rabisco na papeleta
que mal sucedera
o gotejar de soro na veia.


Remunerou-se quantia irrisória.


Registrado um repente
– fatalidade – ,
quando algum sonho se desnorteia
e refaz o curso da história.


O amor não pára
no intervalo de um soluço
abafado pelo lençol, na sala,
em mescla cirúrgica e doméstica.


Anjo exilado no céu,
descabido aviso de gestação,
menina.
Maria da Glória,
Aparecida, Vitória...


Qual cureta põe rubrica
num abjeto livro de Ética,
e torna vil, tão patética,
o mero aceno da Criação?


* Poema reunido no livro "Acalanto da Labareda".

Milton Moreira
Enviado por Milton Moreira em 10/11/2011
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