REFUGIADO DE GUERRA
Da minha terra, às pressas, eu tive que sair
E não foi por bel prazer
Mas por elementos contrários
Impelido por forças externas.
Não me consultaram
E por questões alheias a mim
Por conflitos...
Por dissídios que outros criaram
Fui eu do meu lugar
Simplesmente arrancado
Desarraigado
Fui subjugado
E deixei, fui obrigado
A deixar para trás:
Sonhos
Anseios
Aspirações
Toda uma história
Uma trajetória de vida
Ali construída
E que um algoz bélico
Em nada mesmo considera.
Invadiram a minha pátria
E perpetraram matanças
Vi o meu chão ser lavado
Ser banhado
Com o sangue humano de inocentes
Vivenciei a humana miséria.
Vi irmãos indefesos, do meu lado
Serem cruelmente atacados
Serem mutilados
Pais chorarem desesperados
A perda de seus filhos
Filhos ficarem órfãos
A chorarem a perda de seus pais
Lares e famílias inteiros
Do mapa serem banidos
Varridos, aniquilados
Covardemente bombardeados
Destruídos, arrasados
Transformados num triste cenário
Num amontoado, inanimado, de matéria.
Por entre as ruínas eu caminhei
E sobrevivi
Vi de tudo isso os bastidores
Vi e vivi, de perto
Da guerra os horrores
A insensatez
A maldade humana
Toquei estas mazelas.
E tudo isso deixou
Em mim, marcas
Profundas, indeléveis
No corpo e na alma
E dentro de mim restaram
Ficaram as sequelas.
A minha alma está estilhaçada
E com o nada, que me restou
Tenho que me refazer
Dos escombros
Me reerguer, na esperança
Nos sonhos
Reconstruir a mim mesmo
No meu Ser
Na minha Identidade
Na minha Humanidade
E naquilo que eu era.
Inseguro
Com medo
Do futuro
E de tudo
Em busca de paz e abrigo
Em um lugar qualquer
Eu estou a vagar sem rumo
A peregrinar pelo mundo
Sem endereço
No meio do nada
Sem ter
Sem saber para onde ir
E sem saber o que me espera.
E assim, no meio do mundo
Despatriado
Eu sou mais um refugiado...
Mais um fugitivo da guerra !
Obs.:
Neste meu poema eu me coloco aqui no lugar do outro, de um irmão, de um refugiado de guerra; e dou voz, e vez, a ele !...Num registro, num retrato, ainda que de forma poética, desta triste realidade !....É mesmo deplorável, sabermos que no mundo de hoje, chamado moderno, globalizado, desenvolvido, evoluído, ainda convivemos com problemas ancestrais, com mazelas como estas !...Temos hoje no mundo, cerca de 14 milhões de pessoas "vivendo" nestas condições !...E isto, para um poeta, é algo mesmo muito triste !...Porquanto, o que está mesmo no horizonte do poeta, é um mundo melhor para todos !...Um mundo mais justo e igualitário, mais terno, mais fraterno, mais amável, mais afável, mais humano; e onde possamos ter, todos, garantidos os nossos sagrados, e inalienáveis, Direitos Universais !...