Acentuada miséria

Pelas vielas, vulto trôpego,

cansado do eterno sábado,

às vezes, ofertas módicas,

pálidas, ávaras dádivas.

Percebe censuras tácitas,

sorvendo uns goles tépidos,

contempla com olhar plácido,

céleres, bélicas réplicas.

Revira depósitos fétidos,

iludindo sistema orgânico

buscando porções ínfimas,

trânsfuga, réprobo, pânico.

Suporta o peso do zênite,

em plena rua, vestíbulo,

ignora desprezo vívido,

lázaro sôfrego, patíbulo.

Quando ganha algo sólido,

atribui ao mundo místico,

agradece e consome tóxico,

mísero títere artístico.

Alheio a fatos cômicos,

afinal, a sorte é trágica,

contado entre vândalos,

pérfida mácula, mágica.

Sabe promessas bíblicas,

até postulados espíritas,

abstratos, ausentes méritos,

hipócritas, insípidos médicos.

Segue seu curso súplice,

rogando um gesto válido,

que lhe seria um cúmplice,

música, tônico, cálido…