MANGUEIRAL*



Assídua, balouça sob sentença
na reprise das manhãs
a mangueira em novo verde.
– Folhinha de parede –
assinalando setembro
num vento de primavera,
às vezes caducas anciãs.


Mangueiras em alas suspensas,
prole distraída
espalhando pelo terreiro
sedentárias folhas da vida.


Manga madura caída,
mãozinha de fada – colhida!
Caixões em pilhas
no antro guloso do mercado
com preço aderido à casca.
A moeda, a boca, a faca
reunidas à mesa da família...


Manga madura outra caída:
mãe e filha.
Rótulos, caroços, tarifas...
E Fulano de Tal
Sifrão, olho grande que rilha
demarcando a estação
no cardápio anual.
Sicrano, procurador de Fulano,
mercante de manga,
consumidor de produtos de manga,
gari de feira de manga...


Madeira, florada, manga.
Genealogia da senil mangueira
– folhas pecas,
ramagens secas,
safras derradeiras.


O inverno das mangueiras.
A noite sentencia pausa,
mangueira em menopausa
mortiça no corpo
adormece risonho pós-coito.

(...)


Rede estendida na sombra,
velho Fulano
– venerável veterano –
repousa do eretismo da vida
na aposentadoria dos anos.
No cordial abraço do destino, no desenlace,
replantara a ilusão colhida
com infatigável crença:
assiste sob ala imensa
de mangueiras floridas,
outra que nasce
.


(*) Poema integrante do livro "Afeto da Verruma"
Milton Moreira
Enviado por Milton Moreira em 30/10/2011
Reeditado em 31/10/2011
Código do texto: T3307267
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