Condenada

Seu olhar era um tribunal inteiro

a me julgar,

a vasculhar minha alma

como se fosse um quarto dos fundos

a revolver as coisas,

os sentimentos,

as palavras

e até suspiros

O vento que entrou

pelas frestas

Pedia licença

apenas para passar

E o fuzilamento

de sua indignação

Tinha mil megatons

destrutivos e poderosos

Não fazia cogumelo de fumaça,

Não produzia estrondos,

nem clarões

Apenas um silêncio,

um olhar

e o julgamento final

Estou condenada

Eu sei.

Inapelavelmente condenada.

Com a culpa a expiar e sem direito

de respirar livremente…

Sem morrer de vergonha.

Aprisionada por seu olhar,

Condenada por sua censura

Expurgada do contexto

Sou apenas mais

uma poesia sem sentido,

sem nexo,

sem compromisso

Que perdeu o bonde,

Que esqueceu da tragédia,

Que pulou da ponte.

Que se suicidou

ao cair da tarde

num dia de primavera

simplesmente porque não resistiu

ver o sol morrer…

Ver o dia fenecer

para nascer a noite

E os eternos

mistérios das estrelas.

Sou aquela que é cruel

com as palavras

e com as pessoas

e não sente culpa

Aquela que fecha a porta

e perde a chave

Que bebeu todo veneno

e não morre

Pois vence a morte e

a vontade de morrer

E sem razão dialética

volta a persistir

por causa da metafísica

Volto a enfrentar

seu cotidiano julgamento

E sem pedir licença,

clemência ou piedade

Continuo com minha dignidade

de jeans rotos e desbotados

Cumprimento-lhe

cerimoniosamente

E, prossigo em meu carma,

Pecando descaradamente

no tribunal

de minha consciência

E pagando regiamente

por minha liberdade.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 19/10/2011
Código do texto: T3286811
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