Abraços Gratuitos
O que faço com essa vontade de receber um abraço que me consome?
Esse sentimento de solidão que me toma agora e me faz chorar compulsivamente,
Que me deixa confuso e irritado comigo mesmo por esse oceano de indagações,
Escrevo “Abraços Gratuitos” num cartaz e saio às ruas como um outdoor humano,
As pessoas passam e me imaginam um louco desvairado, ignoram a seriedade do ato,
Cada um introspectivo em seus problemas passa por mim com passos apressados,
Muitos sequer vêem que seguro um cartaz enquanto olho os rostos a minha volta à espera,
Alguns simplesmente riem ou debocham considerando uma atitude ridícula e sem noção,
Mas não desisto e caminho por entre a multidão com o cartaz suspenso entre jovens e idosos,
Duas, três horas talvez passem até que uma senhora se aproxime e me abrace com um sorriso sincero,
De repente quebrado o gelo outros se aproximam e me abraçam também sem timidez,
Assim muitas e muitas pessoas vão se aproximando, jovens, crianças, idosos, mulheres e homens,
Abraços tomam conta da praça, todos compartilhando uma felicidade inexplicável,
Sentem como se voltassem a ser crianças num dia de natal há muito esquecido,
Abraçar a quem for sem se importar com convenções sociais que só distanciam as pessoas,
Abraçar o outro sem julgamentos, desconfianças ou interesses, só deixando extravasar o sentimento,
Sentindo-se livre por simplesmente “ser” e “fazer” aquilo que destoa da normalidade cotidiana,
Sorrindo espontaneamente a cada abraço dado e recebido, como que a receber preciosos presentes,
Deixando-se contagiar por todo um clima de festa permanente e não somente numa data específica,
Assim um espaço público inteiro era tomado por estranhos que se abraçavam e sorriam sua felicidade gratuita,
Emanando uma mensagem de paz, fraternidade e desprendimento de si mesmos em prol dos outros,
Assim um dia que poderia ter sido mais um na vida de todos, sem muitas emoções transformou-se,
De nublado e cinza em iluminado e radiante tal qual foram as demonstrações de afeto trocadas.