MARCAS DO TEMPO
Eu me escondi do tempo
Para não vê-lo passar
E o tempo sem preguiça
Foi passando sem parar
Mesmo assim as suas marcas
Ficaram impregnadas
Nesses meus cabelos brancos
A pele um tanto enrugada
Sem falar nas minhas forças
Bastante debilitadas.
E os nossos movimentos
Que já não são tão precisos
Com pouca agilidade
Nossos passos indecisos
Conduzindo-nos aos poucos
À fase do pegador
Pega gripe, resfriado...
Alterando nosso humor
Pega tanta macacoa
Que nos causa dissabor
E assim nessa pega tudo
Tudo vai se complicando
E a idade do condor
Vai de nós se aproximando
Com dor aqui, com dor ali...
De não se agüentar mais
Senta-se com ui, ui, ui....
Levanta-se com ai, ai, ai...
Tudo faz pra não cair
Pois sempre se quebra quando cai.
Mas a vida é muito bela
Cheia de recordações
Dos tempos da mocidade
Sonhos e desilusões
De uma vida mais simples
Sem muitas complicações
Que nos seus altos e baixos
Muitas realizações
Imagens multicoloridas
Gravadas nos corações
Um filme longa metragem
Nos corações e nas mentes
Que as câmeras do tempo
Foram gravando pra gente
O desfecho desses filmes
São bem diversificados
Pra alguns as cortinas fecham
Sem terem se aposentado
Alguns terminam num abrigo
Ou na família amparados
Sei que o tempo grande mestre
Transmite sabedoria
Que é pouco valorizada
Pelos jovens de hoje em dia
Nesse neoliberalismo
É visto com mais valia
A força de produção
Que a idade atrofia
E a experiência da idade
Tida por sem serventia
Mas todos chegam confiantes
De sua missão cumprida
Na hora que o sol se põe
No horizonte da vida
Eu que atrás da correria
Do tempo me escondi
Talvez nem sabedoria
Com o tempo adquiri
Só do tempo a cicatriz
Mesmo assim muito feliz
Por tudo que já vivi.