MANIFESTO 2011
Eu tenho pena dos homens
que humilham outros homens,
que em suas cosmovisões se acham deuses
cutucando com vara de ferro,
as sangrentas feridas de uma extrema pobreza.
Eu tenho pena dos homens
que destroem outros homens,
vistos como copos descartáveis de festas,
figuras de mortos sobrenomes,
uniformizados e numerados
batendo o diário cartão de ponto,
sempre reféns das horas,
acorrentados no tempo,
vendendo a incalculável glória do saber
por uma ignomínia e módica quantia de réis.
Eu tenho pena dos homens
que vomitam na marmita azeda dos operários,
os carros que nunca poderão comprar,
a casa própria com vista marítima
derrubada e fragmentada,
nos escombros dos versos adormecidos
que pulsam dentro da minha mochila preta...
Eu tenho pena dos dos homens
que montam em outros homens,
fazendo deles cavalos inglórios
de uma desassistida corrida.
Eu tenho pena dos homens
que criam leis ajanotadas
transfiguradas de mordaça...
Eu tenho pena desses homens,
porque abrindo meus olhos
esses cansados olhos contemporâneos
eu nunca enxergo homens
e vejo apenas animais !