Legião de sem nomes

A grande maioria das pessoas é expelida da boceta direto para a cova. Não há nada relevante que intermedeie o espaço existente entre nascimento e morte.

Um monte de rostos de bebês gordos desconhecidos, insignificantes, e talvez desnecessários, superlotando maternidades e destinados a lotar cemitérios.

Tirando o nome presente na cova, no registro de nascimento e em mais meia dúzia de documentos, seu nome não aparecerá em nenhum outro lugar. Nomes que não aparecem em livros, músicas, filmes, programas de rádio e televisão, jornais, apenas nomes em registros de nascimento. Apenas números gerando números.

Pedaços de carne se esbarrando em calçadas, lotando calçadas, hospitais, filas, trânsito.

Pedaços de carne com olhos, sem nome, pagando impostos e ocupando espaço, apenas.

A maioria é assim, a imensa maioria.

Existem poucos protagonistas. E é assim que deve ser. Entretanto os coadjuvantes também representam apenas uma pequena parcela.

Poucos coadjuvantes para 6 bilhões de pedaços de carne marchando sem rosto em ruas com nome (as ruas possuem nomes).

Poucos, mas suficientes protagonistas, poucos coadjuvantes, e a maioria fazendo pequenas participações em cenas onde multidões de semi acéfalos são utilizados para fazer número, sem fala, sem foco, NÚMEROS.

Alguns não se importam com isso, outros não pensam nisso, outros nem se dão o trabalho de pensar.

O triste é saber que alguns dos que se importam e que querem sair do escuro e ganhar um rosto, não o conseguem, não sabem como fazer, não sabem por onde começar, não conhecem o caminho.

E o mais triste é saber que alguns idiotas caíram de pára-quedas no caminho. No caminho em que muitos seres interessantes passam a vida apenas procurando. Sem GPS, com uma bússola apontando para Oeste, no escuro e com uma lanterna sem pilhas.

Procurando o caminho, a direção, o rumo, a saída ou a chegada, ou sei lá o que. Quem sabe?

Uma pequena multidão andando desnorteada em círculos. Já cansados se deparam com o ponto de partida. Então dão mais uma ou duas voltas e quando vislumbram novamente o ponto de partida, resolvem mudar de direção, vão para o outro lado, mas estando em um círculo, o ponto inicial e final serão sempre iguais, não importa o lado que se tenha escolhido.

Alguns continuam a dar voltas impulsionados por uma esperança desgastante, por serem fracos ou fortes, por tudo ou por nada. Outros param no caminho, outros desistem e antecipam os créditos. O pessoal vai dormir durante o filme, vão acordar nos créditos, não lerão as dedicatórias e nem nada, dormirão novamente.

O filme parará na parte debaixo de uma estante empoeirada, e vai sumir, simplesmente sumir. Sem nomes, e nem lembranças. A sinopse era ruim e mundana.

As cortinas fecharam antes de o show iniciar.

Muitos suicídios não são notificados.

Beckerf
Enviado por Beckerf em 08/10/2011
Código do texto: T3265719
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