Um repente
Um repente sem pretensão
Sem eira nem beira
Sapateia na alça do caixão
Enquanto fugaz preconceito
Aceito de revés e desfeito sem noção
Aguarda solene desordem
Um pacote de sonhos na contramão
Eu que me ri da morte
Eu até que chutei a sorte
Eu venho do Norte e olho para o Sul
Eu que nasci marrom e não tenho sangue azul
Medo não me aborda, coragem não me sobra
Sigo no talo da “responsa”, da ética venturosa
Onde edifica soberana e generosa
Comunhão plural da arte gloriosa
Jairo Lima
Nunca outrora
Um repente
De repente
Afetou a vida de tanta gente.
A arte fora indomável.
É nato contemplarmos sua beleza,
Mas ao futucar-lhe a face
Transforma-se em sete cabeças
Mesmo assim, ludibriados,
Pronuncia-se a indiferente sentença
Sem pesar as consequências
Exprimindo a voraz doença:
Dos que fazem por fazer
Dos que giram por girar
Dos que vibram sem prazer
Dos que vivem sem viver.
Do poço da juventude
-que se mostra ser de arte-
Exala-lhes terrível odor
de promíscua insegurança.
Questionam o direito de ser criança
Onde seu choro sempre é irrelevância.
Lá, um monstro não se esconde debaixo da cama,
Mas reconhece-o ao falar “bom dia”.
É esse repente inconsequente
O causador de revertério a esse indiferente
Ofendendo o insolente
Que abandona sua arte.
Ao que abandona sua arte
Mostra-se um coitado já punido
Atado em sentimentos oprimidos
Derrotado por pensamentos sem sentido.
Quem abandona sua arte
Perde a chance de rever um motivo
Vê o tempo já perdido
Só restando um futuro frágil
de criativo comedido.