Uma rosa
Não tenho espaço pra tantos desejos
Talvez o saiba depois da vida
Respostas pra tantas coisas indefinidas
Mas até lá não sei se será noite ou dia
Nem se contabilizam meu tempo
Quem sabe um dia
Não haja lucro em cima
De tudo quanto é coisa
Até de um homem que definha
Quem sabe um dia
Reais valores deem valor a vida
Ante as vistas
De uma nação empobrecida
Quem sabe um dia
Não pobres de espírito
Como porcos aflitos
Pela lavagem que se serve
Enquanto é choro e agonia
Uma criança agoniza
Sem nem saber
Por que a alvejaram com ira
Os ritos seguem calados
Os povos seguem mudos
Como povos em água turva
Com os tentáculos amarrados
Até esse distante dia de sorriso
Vejo a competição dos papa-defuntos
Suas ricas fábricas de urnas mortuárias
Aluga-se espaço para todas as lamentações
Eu tenho essa fúnebre visão
De um coração envolto em massa cinzenta
Batendo de contra a ponta da espada
Escorrendo sentimentos pelo chão
Minha delirante espádua
Sequer suporta minha auto-poluição
E pensa em sustentar os desafortunados
Não importa qual seja a condição...
Nada condiz senhores
Nada acerta o clima
Por isso de forma deformada
Preciso de uma rima
única e definitiva
Preciso-a preciosa
Quero-te querida
Pois nada aqui é coerente
A não serem essas linhas
Que são imaginárias no céu
Paralelos e trópicos de minha vida
No ferramental umas pontas de cigarros
Umas velas de carros
Que farei com essas tralhas
Num mar cheio de algas marinhas
Onde os tubarões fazem pinimba
Estamos do meio do nosso nada
De nossas faltas diurnas
Por saberes e sentires que nos faltam
Um desastre da natureza
Talvez seu aborto
Seres auto-destrutivos
Senhores das calamidades
Senhores das enfermidades
Senhores sem escrúpulos
Corruptos redundantes
Empresários desvairados
Mídia podre de rica e cada vez mais podre
Desinserção de valores
Todos são nossos malignos tumores
Células cancerosas
Terroristas em verso e prosa
Te explodem com uma rosa
Enforcam-te com uma canção
E a gente vai rindo
E assistindo
Depois dormimos, dormimos e mais dormimos
Até de olhos abertos; Dormimos!
Sob o solado vulcanizado; Dormimos!
Promessas e sonhos dão sono...
Por isso não acordamos...
E em nosso sonambulismo de todos os dias
Ganhamos nossa digna ironia.