crônica carioca
de repente quem não sabe nada
tem muito a ensinar
meu grito caiu na calçada
não tive como passar
de repente o fim do castigo
é o início de tudo
meu gato caiu do postigo
fiquei na soleira, contudo
de repente o fim da tristeza
é o início de alguma alegria
meu sonho morreu de incerteza
e eu, de poesia
de repente o beijo molhado
estremece o bicho-papão
um dia me vi destronado
pois ela fugiu de avião
de repente a consoante
me fala mais que a vogal
me lembro a todo instante
que o “f” de foda é fatal
de repente o louco acerta
e o homem centrado não diz
quem é que nas horas incertas
de fato é o mais infeliz?
de repente o meu ordenado
comprou tudo o que eu queria
o sujo, o esfarrapado
zombou foi da minha alegria
de repente o pato e a galinha
conversam no chão do terreiro
perguntam porque é que eu não vinha
pra dentro do galinheiro
de repente a soma do mais
não é o produto do sim
de repente não sou mais capaz
de achar resultados em mim
de repente quem disse que era
não era e não sabe se foi
de repente fiquei na paquera
do olhar descansado do boi
de repente falei a verdade
pensando que fosse mentira
porém quando vi que era tarde
notei que eu não me garantira
de repente olhando o vazio
aí é que eu acho o recheio
me enrosco em meu próprio fastio
da fuga de mim titubeio
de repente, porém, limonada,
me traz toda a luz da razão
me cura uma sede danada
e nela o sabor do verão
Rio, 22/06/2006