Pensamento Descomposto

Que meus versos não sejam calados...

Que minhas verdades não sejam deixadas em qualquer canto do mundo...

Porque qualquer canto nem sempre é o melhor canto;

Qualquer canto pode ser um quarto de despejo

Ou um lixão de sensações.

Que minhas caras sejam sempre minhas próprias caras

E que eu não tenha que guardá-las sempre que precisar sair às ruas,

Porque as ruas não têm donos;

Porque os passos são meus e não devem ser medidos;

Não devem ser controlados por quem não controla seus próprios.

Que meus pecados sejam sempre – e apenas - meus

E que meus dias sejam diferentes a cada dia,

Porque a rotina cansa...

Porque a vida não é feita de medidas...

Por que precisamos de um pouco de culpa para crescer.

Quero viver desertos que sejam meus

Que cada grão de areia se torne pensamento

E que as possibilidades de água sejam minhas lágrimas,

Porque pensar e conhecer-se

E chorar é reconhecer-se.

Quero amanhecer e conhecer o sol e as ruas...

Quero amanhecer e esquecer as sombras e o mundo...

Quero amanhecer e descobrir outras ilusões...

E descobrir depois que todas são como as anteriores –

Porque não há nada que já não houve!

Tantos olhos precisam ver...

Tantas bocas precisam falar...

Mas há, em todo lugar, um pouco de incerteza;

Há medo em cada vago sombrio...

Em cada buraco no chão.