Liminar

Vamos, vamos, vamos

O tempo é curto e a distância é a longa.

Movimentem-se, movimentem-se

Já chegam e podem irritar-se

Que não nos vejam aqui.

Ninguém nos autorizou, lembrem-se.

Eles quem sabe o fizessem,

Mas hoje não será o nosso dia.

Adiem essa permanência, digam adeus,

Desconfortável adeus.

Os donos estão vindo e as nossas terras

Não são mais as que eram ontem.

Ficamos assim, ao alcance de suas decisões,

De suas mãos pesadas, de suas botas, de seu riso de escárnio.

Movimentem-se, vamos, vamos.

Ficar? Tem certeza?

Não, melhor não.

Estas terras não são mais nossas,

Seus donos alegam retorno, estorno, estorvo.

Somos estorvo, ocupantes impróprios

Nada para se preocupar.

Como disse, é melhor ir, é melhor.

Lá chegam à vista as primeiras botas raivosas

Desocupando o que estava bem ocupado.

Somos lembranças, somos passado.

O futuro a outros pretence.

A terra, como disse alguém,

A outros, justos ou não, pertence

E deles será a herança.

A nós?

Sem casa, sem caminho, sem nada

Que reste um pouco de resto, desocupação, invasão, fuga.

A nós, tomara, que sobre um pedaço de esperança

Em outra margem, em outro ponto distante.