Pela janela do quarto

Olho pela janela, por entre os ferros da grade

Ferros esses, já quase enferrujados, que me protegem,

que me aprisionam.

Vejo os outros prédios. Janelas abertas, janelas fechadas,

as vezes vejo sinais de vida desconhecida.

Seres humanos, como eu, como você,

tão semelhantes, tão distantes. Provavelmente nunca os conhecerei.

-nem tenho interesse nisso-.

Esse prédio é velho, de 1967, mas da minha janela vejo a modernidade;

à direita, outro prédio, esse já mais novo,

talvez ainda se encontre nele o suor dos  homens que o fizeram.

Seres humanos, como eu, como você,

tão semelhantes, tão distantes. Convivi diariamente com eles por mais de ano

então o edifício passou a ter vida própria, sem depender mais deles.

Nunca mais os vi, jamais os verei novamente.

Saudades? Não, que importância todos esses teriam pra mim?

Em suma, vejo sete prédios.

Nunca acordei ouvindo os pássaros cantarem na minha janela.

E vou ficando aqui

por entre os entrecruzamentos desta grade velha, suja, enferrujada

que me protege,

e me aprisiona.