MÃE PRETA

Escrava foi, em idas tardes de mormaço;

De pele negra luzida pelo cansaço

Submetida às lidas do seu labor.

Mãos calejadas, com o sono desfalcado

Viu seu rebento de seu seio arrancado

Pelo mercado cruel do seu Senhor.

Eram carrascos agentes da sua dor,

Era um trajeto farto de judiação...

Ela calada suprida pelo amor

Ficava muda sem uma reclamação.

Um dia tiraram-na da senzala, ela espanta,

Foi para a casa grande curva e submissa

Cuidar do filho loiro e ninando canta

Toda a ternura que em seu ser ainda habita.

-"Dorme, dorme lindo menino

Que o anjo te guardará

Como guarda o meu filhinho

Que jogado dorme em pinho

E meu leite não sugará...

Dorme bem meu inocente,

Que eu aqui te velarei

Para que acordes contente

Com o mesmo sonho clemente

Do filho que lá deixei..."

Mãe preta chora baixinho

Pela sorte concebida,

Pois nem ao filho o carinho

De um beijo de despedida.

Rose Arouck
Enviado por Rose Arouck em 10/12/2006
Código do texto: T314591