Boca suja

Atrás da porta da aparência

há a boca suja que proíbe e nega

que beija e morde e cospe

é mais saliva e desdém do que carinho.

De teu grito: a lei, um tapa na cara,

uma jaula e um falso concreto sentir de segurança.

Beija tão só os filhos pródigos, de sangue e que sangue,

que ainda sangra, são àqueles poucos, mas poderosos

demônios, personificações das misérias (e para as misérias)

arquitetos e engenheiros da desigualdade.

Enquanto aos filhos bastardos resta somente cuspe

e mordidas que aos poucos dilacera a carne e o espírito.

Então, fecha-se a porta e resta o exílio, a sentença

o medo e a lei, cujo olhar deita-se à espreita de algo.

Supõe algo, acha. Acha um meio de condenar. E condena.

E nega-se três vezes a essência da desfaçatez (não não não).

Abre a porta e veja, lá estará outros homens, cópias das cópias.

Estará, na verdade, o homem que, de fato, se alegra com os crimes,

os quais matam crianças de fome e os homens com tiros e pancadas.

Hoje ou quem sabe amanhã a boca suja te pegue e te proíba,

antes, bem antes, que alguém escute teu grito, mas restará marca

e, sobretudo, luta e sangue e vida e pedra e utopia e desejo. E [realidade, um dia.

Gabriel Furquim
Enviado por Gabriel Furquim em 07/08/2011
Código do texto: T3145639
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