Partes ocultas

Ah, esse nada ofídio,

todo enrolado preparando o bote!

A vagar por ruelas escuras

arriscando tropeçar n'algum mote,

afinal, as ruas estão semi-nuas,

e abusam dos seus decotes…

Num motejo da alheia dor,

almas que a dor inda não lapidou;

a fonte do riso jorra farta,

a das lágrimas, a rocha de Horebe;

aí a vara de Moisés fere,

e então, toda multidão bebe.

Após a ferida desaparece o pejo

e aparecem as partes ocultas;

o precoce fruto do ramo do desejo,

premia com responsabilidade adulta;

a viúva, no auto fúnebre do sonho,

flerta com o real, e o que ele faculta.

As digitais do homem-bicho

denunciam que ele pos sua mão;

basta uma olhadela no lixo

pra ler a vida dos filhos de Adão;

a descartar por capricho,

qualquer coisa que exija doação.

Ah, esse nada, todo enrolado,

nada substancial, dito seja;

num rápido cambiar da tela,

o temor que alguém veja,

o nauta deleta a verdade,

e abre à fantasia que deseja…

Leonel Santos
Enviado por Leonel Santos em 27/07/2011
Código do texto: T3121633
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