A história de Zé Clichê
Voou para São Paulo,
na esperança de encontrar
saúde, mulher e trabalho;
Acabou enfrentando por lá
desespero, medo e saudade
de uma ruralidade que outrora
sonhava em largar.
Mas não tinha jeito, só foi com
ingresso de ida, sonhou na partida
ao nordeste voltar locupletado,
servindo farinha pro povo co'as
mãos adornadas de objetos d'ouro.
No entanto viu-se onírico num mundo
onde sonhar era apenas um verbo
intransitivo. Sonhou! Acabou.
Sem muita opção e com preconceito
estampado no RG, se virou no setor
terciário, mal conseguia se manter.
Ainda por cima era cabra da peste,
realizou antes da devida hora o sonho
de ser pai. Agora tinha mais cinco dívidas
para pagar: a de João, Maria, José, a sua e de sua mulher!
Arraigou-se à desgostosa vida, longe de sua família
e da simplicidade de um lar. Esqueceu de comprar
sua casa, seu carro, e seu ouro, a farinha pro povo,
pois dinheiro que é bom não restava.
Logo atrasou o aluguel, foi mandado para casa do chapéu.
Sem muita opção, e co'a marca do despejo subiu o morro.
Eis que surge entre os milhares um novo casebre.
Num ponto de risco, sem rede de esgoto.
E agora Zé? Onde está o fascínio urbano?
Morreu com os sonhos de uma realidade
Que se negava a enxergar.