A história de Zé Clichê

Voou para São Paulo,

na esperança de encontrar

saúde, mulher e trabalho;

Acabou enfrentando por lá

desespero, medo e saudade

de uma ruralidade que outrora

sonhava em largar.

Mas não tinha jeito, só foi com

ingresso de ida, sonhou na partida

ao nordeste voltar locupletado,

servindo farinha pro povo co'as

mãos adornadas de objetos d'ouro.

No entanto viu-se onírico num mundo

onde sonhar era apenas um verbo

intransitivo. Sonhou! Acabou.

Sem muita opção e com preconceito

estampado no RG, se virou no setor

terciário, mal conseguia se manter.

Ainda por cima era cabra da peste,

realizou antes da devida hora o sonho

de ser pai. Agora tinha mais cinco dívidas

para pagar: a de João, Maria, José, a sua e de sua mulher!

Arraigou-se à desgostosa vida, longe de sua família

e da simplicidade de um lar. Esqueceu de comprar

sua casa, seu carro, e seu ouro, a farinha pro povo,

pois dinheiro que é bom não restava.

Logo atrasou o aluguel, foi mandado para casa do chapéu.

Sem muita opção, e co'a marca do despejo subiu o morro.

Eis que surge entre os milhares um novo casebre.

Num ponto de risco, sem rede de esgoto.

E agora Zé? Onde está o fascínio urbano?

Morreu com os sonhos de uma realidade

Que se negava a enxergar.

Kayke Campeche
Enviado por Kayke Campeche em 18/07/2011
Código do texto: T3103576
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.