MANIFESTO À LOUCURA
... Louco é quem duvida de louco!
ah, os loucos de amor, de desejo
presos a suas amarras, implodindo sentimentos...
os loucos de pedra, pedra esculpida nas intempéries
de dias e noites a girar o moinho das rotinas impostas
e aceitas com amarga resignação...
e os loucos de atar
pois só amarrados,
cerceados e amordaçados serão contidos
e nem assim, pois há sempre uma saída
uma brecha salvadora para olhos atentos
e mentes libertárias...
E tudo que foge ao senso comum,
da burrice castradora e infame
é usual ser chamado de loucura...
mas não são loucos os de terno e gravata
correndo atrás dos minutos,
olhos vidrados,
peito ofegante
e almas tão pálidas?
Loucos dos pregões da bolsa de valores
pobres meninos de bocas escancaradas
e corações cinza-chumbo..
ah, mas não dá pra adoçar café de louco, sabia?
E dizem línguas corajosas
que é das loucas e desbocadas
que eles gostam mais...
...pudera, autenticidade é coisa rara,
gente assim faz falta,
porque de certinhos de fachada
o inferno deve estar superlotado...
bem como de condecorados esnobes
e fanfarrões da moralidade,
uns em ânsias por reconhecimento
outros repetindo cantilenas de manuais ensebados,
com a mão direita apontam preceitos caducos
com a esquerda
acariciam meninas deixadas pela baixa maré!
E os loucos de toda ordem,
os lunáticos e sonhadores sem remédio
carregarão em suas almas
a semente de uma saída?