O CALENDÁRIO DA CEGUEIRA
Ergam vossos olhos, ó cegos sociais da infeliz e vã felicidade
E esqueçam o urgente alarde vindo de seus bolsos e penelas vazios
Os pavios juninos já explodem e mandam pelos ares a sua dignidade
E enquanto pulam a fogueira da desigualdade, servem seus deuses vadios!
De janeiro a dezembro, nem Gregório projetou tamanhos eventos
Serviçais dos ventos que sopram a favor da mais óbvia conspiração
Criando escravos do consumo e da alucinação de neurônios sonolentos
Cujos alentos sobejam na mesa dos nobres, na forma de circo e pão!
Conforme o asno sabichão, nada melhor que gastar e dançar pra valer
Posto de que vale viver sem nada a comprar e sem ter diversão?
Usa o diploma que lhe deu a televisão, que o fez doutorado em perder
Excluído qual mais reles ser e mesmo assim aplaudindo sua própria prisão!
É preciso comprar e buscar alegria nas festas vulgares ao longo do ano
Se por baixo do pano há quem tudo comande, isso é só um detalhe
Tão vil achincalhe é um tapa na alma do cidadão ser humano
Pois pra todo engano sempre haverá um feriado que calhe!
"Enquanto houverem cães cegos pela fome, sempre haverão ossos de ilusão" (Reinaldo Ribeiro)
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Reinaldo Ribeiro - O Poeta do Amor