Alma Cega
Ei! Você aí! Ei!
Limpe seus moucos ouvidos
E ouça meus roucos lamentos
Sobre a fome que tortura
Sobre o frio lancinante
Sobre o medo que tem da vida
Aquele que vive ao léu
Ei! Você aí! Ei!
Não finja que não me ouve!
Pois eu sei que os meus gritos
Lhe tiram o sossego noturno
Embaçando seus orgasmos
Desafinando os acordes
Que tecem a melodia
Da trilha desse seu filme
Daqueles cujo roteiro
Parece escrito por Deus
Ei! Você aí! Ei!
Não se finja mais de surdo
Porque eu também não sou mudo
E não calo os meus gemidos
Mesmo que inutilmente
Só para mantê-lo em vigília
Nem que seja por fobia
De vê-los enfim envolvidos
Em cálidas mantas de chumbo
Não mais rasgando a garganta
Mas explodindo no cano
E enfim fazerem-se audíveis
Ao atravessar seu tímpano
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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Ouvidos Moucos
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