Poema aos passageiros do trem das seis

os passageiros finalmente tomam minhas últimas dores

xingam e dão risadas

fiapos de risos espremidos entre dentes

bebem, cansados, as luzes semiacesas

as portas, os postes, as pistas,

os pingos da chuva se esborrachando nos vidros das janelas

os passageiros sentados

buscam de todas as formas uma forma de descanso

e adormecem, acostumados aos cheiros

acostumados aos barulhos, acostumados às babas alheias

quando o assunto é o silêncio das palavras gastas

- no entremeio do sono e da vigília -

sonham com café quente e espumante

sonham com bichos de loteria e saboreiam os números

comem ossos e arrotam fé

e, assim reconfortados,

acordam xérox autenticada para a próxima semana