Enquanto eu sentia fome.
Enquanto fome eu sentia, chorava pela dor que gritava dentro de mim.
A dor da fome me cortava por dentro e por fora.
E eu sentia minhas forças murchando feito uma rosa.
E a angústia que me consumia o corpo ardia até a minha alma.
Porque fome não satisfeita é como ferida não tratada.
Uma ferida que puxa e repuxa num ritmo contínuo e acelerado.
E o ser humano com fome se torna apenas ser.
Pois, que aos poucos o ser que era homem, vai se transformando apenas em um animal.
E não importa se o animal é dócil ou feroz, importa é que o faminto tem a sua humanidade negada.
O faminto não consegue mais se ver no mundo.
Ele só enxerga o imenso vazio dentro de si.
O vazio no estômago é também vazio na alma.
O vazio da humanidade negada.
Pois, que enquanto fome eu sentia, gritava pela dor que me cortava por dentro e por fora.
Minhas forças como rosas murchavam.
E a angústia que ardia meu peito, queimava também minha alma.
A fome me endurecia, a ponto de não conseguir ver nada mais além daquele buraco que devorava minha carne.
E eu mordia os meus lábios para sentir o gosto de algo vivo.
Eu bebia minhas lágrimas e arrotava meu próprio sangue.
Pois, que fome não satisfeita é como ferida não tratada.
E o vazio no estômago é também vazio na alma.
Vazio de vida cortada.
E da humanidade a cada dia negada.